Santa Maria da Feira: Maravilhas de Portugal

O encontro com as terras de Santa Maria
Cidade e sede de concelho do distrito de Aveiro, Santa Maria da Feira é uma povoação muito antiga. No tempo de D. Dinis era já sede de um julgado, como nos comprova um documento conhecido por Foral Velho.
A cidade de Santa Maria da Feira deve o seu nome a um mercado que ali existiu nos alvores da nacionalidade portuguesa, onde se vendiam ferramentas, fruta e produtos que marcavam o meio rural da região. A sua crescente fama leva à adopção do nome da povoação que bordejava o castelo, cuja primeira referência data de 1177.
Em 1514, é doado foral à localidade (Foral Novo - concedido por D. Manuel I), então designada por Vila da Feira, mas é só com a elevação a cidade, em 1985, que adquire o nome actual. Hoje, Santa Maria da Feira é um dos mais importantes pólos industiais de Portugal, mas soube sempre preservar as tradições e o encanto de outras eras.
O Castelo de Santa Maria da Feira
A Alcáçova Medieval da cidade é, pelas suas características arquitectónicas, uma raridade entre as fortalezas portuguesas. O Castelo de Santa Maria da Feira é uma raridade dentro do género em Portugal, tornando-se inconfundível pelo tipo de seteiras que adornam as muralhas e, sobretudo, pelas torres de forma cónica que nos reportam para outras paragens: França, Alemanha, ou mesmo para os contos de fadas. Esbelto e elegante, a sua silhueta desafia os tempos e impõe-se como orgulho e motivo de vaidade das gentes das terras de Santa Maria.
Na figura (em cima): Castelo de Santa Maria da Feira
As suas origens são remotas, sabendo-se que os romanos construíram uma fortificação na antiga Lancobriga sobre as ruínas de um templo dedicado a um deus local, Bandevelugo-Toiraeco.
Posteriormente, os árabes edificaram no local uma fortaleza mourisca, mas, com a reconquista cristã, o recinto sofreu grandes alterações, ganhando um aspecto mais próximo de uma fortificação feudal.
Nos primórdios da nacionalidade portuguesa, o castelo assume uma importância cada vez maior - havendo autores, até, que defendem que foi aqui o verdadeiro berço de Portugal -, embora não tenha sido palco de grandes conflitos, dado que as linhas fronteiriças da reconquista foram descendo cada vez mais para sul, servindo mais como residência e paço de figuras da nobreza e alcaides, ao ponto de D. Sancho I o ter utilizado como local de abrigo para a rainha e suas filhas.
Mais tarde, o rei D. Fernando doa-o a João Afonso Telo, irmão de D. Leonor de Teles, e que, aquando da deflagração da crise dinástica, toma o partido de Castela, vindo a cair dois anos depois nas mãos dos partidários do Mestre de Avis.
Perdendo cada vez mais a sua função militar, o castelo sofre o primeiro grande restauro no reinado de D. Manuel, que manda reconstruir a torre de menagem, cercando-a de redutos, cubelos e barbacã.
A partir do início do século XVIII, com a morte do último conde de Santa Maria da Feira, o castelo entra em processo de ruína, e o palácio interior é consumido pelas chamas, em 1722.
Embora declarada monumento nacional em 1881, a fortaleza estava ao abandono, valendo as acções de Alexandre Herculano, que a descreveu como "uma das mais perfeitas antiguidades portuguesas" e da Comissão de Vigilância e Conservação, que, a partir de 1905, suportou o custo as obras de conservação. Mas foi a partir de 1935, com a aquisição pela Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais, que os trabalhos de restauro lhe conferiram o aspecto actual.
A cidade e os arredores
Embora tenha sido o seu emblemático castelo que incentivou a fixação de população em seu redor, a região das terras de santa Maria já era habitada desde os tempos mais remotos, como pode ser comprovado pelo número de monumentos megalíticos existentes (antas e mamoas) e pelos vestígios de castros celtas.
Os romanos, por seu turno, também aqui deixaram o seu legado, atestado pela quantidade de pontes e vias que subsistiram até aos dias de hoje. Mas foi a partir da Idade Média, essencialmente no período da reconquista, que a localidade (então designada por "Civitas Sanctae Mariae") e região envolvente se desenvolveu, sempre sob a sombra tutelar da sua magnífica fortificação.
Mas Santa Maria da Feira não se resume tão só ao seu altivo castelo. O Largo do Rossio é, verdadeiramente, o centro nevrálgico da cidade e a partir do qual tudo gira em seu redor. É ali que, desde tempos imorredouros, se comercializa todo o tipo de produtos, e é o local de reunião por excelência dos feirenses, ora debaixo da sombra abrigada das árvores que ladeiam o coreto, ora pelos cafés, restaurantes e esplanadas que o pontuam.
É precisamente neste espaço que decorre a mais tradicional das festas da região, a festa das fogaças, que ocorre todos os anos no dia 20 de Janeiro e cujas origens remontam ao século XVI.
Segundo a lenda, o povo, cansado das sucessivas epidemias de peste, formulou um voto em honra de S. Sebastião, oferecendo-lhe broas doces de pão de trigo - as fogaças - que eram transportadas até à igreja matriz onde, depois de benzidas, eram distribuídas pela população.
Desta forma, a peste foi afastada mas, com a interrupção das festividades entre 1749 e 1753, novo surto tomou conta da vila, de forma que, para apaziguar um castigo que se supunha divino, rapidamente se retomou a tradição... até hoje.
Também neste Largo do Rossio, se podem observar algumas das magníficas casas senhoriais de outros tempos, das quais se destacam o Solar do Fijô e a Casa das Ribas.
Na figura (em cima): A Igreja Matriz de Stª. Maria da Feira
Destaca-se ainda nesta bonita cidade, a Praça da República, (antiga Praça Velha), ornamentada com um chafariz do século XVIII fronteiro a um edifício onde funcionam actualmente, os Paços do Concelho. Pode-se observar ainda o conjunto maneirista formado pela igreja Matriz e pelo Convento dos Lóios, que dominam esta parte da cidade a partir do alto e aos quais se acede a partir de uma monumental escadaria.
Na figura (em cima): O Convento dos Lóios
Ainda, na cidade, pode-se assistir a um encontro entre o passado e o futuro. No primeiro caso, destacam vivamente uma viagem no tempo através da recriação das ceias medievais, que costumam ocorrer durante o mês de Julho e que têm lugar no castelo da cidade. Os participantes, envergando trajes medievais, recriam o ambiente típico do século XIV, entre grande animação e repastos próprios dessa época. Nessas noites, o castelo da cidade recua no tempo para receber donzelas, cavaleiros, bobos, malabaristas e saltibancos, gaiteiros e trovadores, que fazem os possíveis e os impossíveis para animar a noite a "sua majestade" e a todos os convidados. Estas ceias organizam-se ao longo de todo o ano, para grupos, mediante marcação prévia.
Na figura (em cima): O regresso à Idade Média
Depois de se ter tomado contacto com o carácter rude da Idade Média, nada como ir ao encontro do futuro, bastando, para tal, tomar o rumo do Europarque, nos arredores da cidade. Este grandioso espaço de aspecto futurista - embora rodeado de espaços verdes e lagos -, além de ser um dos mais modernos centros de congressos de Portugal, engloba um centro de ciência cujo expoente é representado pelo Visionarium, cujas salas, interactivas, convidam os participantes a descobrirem e a participarem na história da Terra e a terem a noção dos grandes princípios científicos. Um verdadeiro deslumbramento para os sentidos!
Na figura (em cima): Visionarium, no Europarque - Santa Maria da Feira
Em redor de Santa Maria da Feira também não faltam atractivos, como o Zoo de Lourosa, um dos melhores parques ornitológicos da Europa e as Caldas de São Lorge, onde se pode ter um contacto mais directo com o interior do concelho e a sua variedade paisagística.
Por tudo o que aqui foi dito, Santa Maria da Feira é de facto um dos muitos tesouros de Portugal que se aconselha, vivamente, a visitar.

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