Serra da Lousã: Maravilhas de Portugal

Serra da Lousã: onde os sentidos despertam
Na Serra da Lousã podemos encontrar cumeadas redondas como bojos de ânfora, vertentes abruptas, vales encaixados como se fossem obra de violentos golpes de cutelo ou ribeiras vertiginosas que aplainam a rocha.
Esta serra situada entre dois rios - O Ceira e o Zêzere - é o ponto de encontro da vegetação Atlântica e da tipicamente Mediterrânica, ou seja, nela encontramos árvores como o Azevinho, o Azereiro, a Azinheira ou o Sobreiro.
Elo dessa formidável cadeia de montanhas chamada Cordilheira Central, a Serra da Lousã não é a mais alta nem a maior de todas, mas é sem dúvida uma serra de uma enorme grandeza.
Ao visitar esta serra dá vontade de conhecer todos os seus recantos, como as aldeias de Candal, Pena, Catarredor, Gondramaz ou Povorais, entre muitas outras e as suas ribeiras que, ao sabor das vertentes, ora procuram o Zêzere ora pendem para o Ceira. Mas de toda essa água que brota da montanha abrindo sulcos e escavando vales ravinosos, a ribeira das Quelhas é sem dúvida a mais deslumbrante. Contorcionista, impetuosa desde a nascente, numa escarpa que parece ir de encontro ao céu, até se enfiar na ribeira de Pêra, toda ela é uma sucessão de rápidos e quedas de água.
Outros atractivos são também os singulares Penedos de Góis (solitária crista quartzítica, dorso eriçado de animal pré-histórico), ou os muitos miradouros como o do Cabeço do Peão.
Esta é de facto uma serra grande, que não se compadece com um passeio apressado e menos ainda por uma espreitadela desta ou daquela curva da estrada. É uma serra para se revisitar uma, duas, muitas vezes, percorrê-la a pé, ou então de jipe, pois não há outra maneira de a conhecer profundamente.
Aquecida pelo sol do Estio, mordida pelas geadas invernais, submersa por névoas frequentes que a forram como algodão, a serra veste-se e despe-se ao ritmo de cada estação.
Cada dia apresenta a sua luz; lugar onde as ribeiras tanto são fios mirrados de água como se transformam em torrentes bravias; lugar onde se pode dar de caras com o atrevido javali, o magnífico veado, apanhar o voo rasteiro dum bando de perdizes ou acompanhar a caçada da águia de asa redonda.
Outros aspectos de interesse são: as piscinas fluviais das ribeiras de Alge, de Pêra, de São João ou do Ceira, que no Verão se enchem de banhistas ou os trilhos talhados por toda a serra, onde famílias inteiras sobem até Santo António da Neve, a Porto Espinho ou à Fonte Fria, munidas de iguarias de fazer crescer água na boca. Mas, de facto, a prova certeira é espreitar-se os rios e ribeiras, onde devido às excelentes condições naturais, águas límpidas às quais se juntam algumas comodidades, surgem as espectaculares praias fluviais.
Do lado Sul, na ribeira de Alge, duas boas escolhas são a praia fluvial das Fragas de São Simão e a piscina natural do Campelo; na ribeira de Pêra, a mais dilatada e apetecível das praias fluviais é a do Poço Corga, com árvores seculares à sua volta.
Guinando para Norte, alcança-se o rio Ceira, importante tributário do Mondego. Mais avantajado, as praias sucedem-se umas às outras, seja em terras de Góis, da Lousã, ou Miranda do Corvo. Na magra ribeira da Senhora da Piedade aparece a praia com o mesmo nome e que goza de uma localização privilegiada; no rio Arouce, a praia fluvial tem a companhia do castelo e de várias ermidas.
Porém, nesta serra há sempre uma satisfação íntima em aceder ao seu ponto mais alto, Trevim a 1205 metros de altitude, onde o vento corre sem peias e onde o olhar se alonga em absoluta liberdade, sentindo-se a proximidade dos caminhos do céu. Em dias de boa luz avista-se do lado Poente: A serra do Buçaco, a Bairrada, a serra da Boa Viagem e o Atlântico; do lado Sul: o Espinhal, o maciço de Porto de Mós e o próprio Ribatejo, até Marvão; a Nascente: a serra da Gardunha e os longes das serras da Gata e de Gredos; a Norte: os penedos de Fajão, o Colocorinho, os Cântaros da serra da Estrela, a serra do Caramulo e a Gralheira. Esta serra é de facto um dos grandes miradouros de Portugal Continental.
Na figura (em cima): O poço "frigorífico" de Santo António da Neve.
Todavia, nenhuma viagem a esta serra pode ignorar o património construído, a marca digital do ser humano na paisagem.
Património que se traduz em primeiro lugar nas inconfundíveis aldeias de xisto. Erguidas com o que estava à mão, empilhando pedra sobre pedra, sem reboco nem pinga de tinta, as casas destas aldeias com janelas que parecem postigos tomam o aspecto de fortalezas, ou melhor, de "Kasbahs", tal não são as notáveis semelhanças com os povoados do Atlas marroquino. Uma fiada de aldeias, que tem nas pontas o Candal e o Casal Novo, é o que se encontra de mais autêntico neste tipo de povoamento.
A generalidade destes povoados foram abandonados, enquanto noutros ficaram aqueles que já não se sentiam capazes de embarcar num sonho de eldorado.
O Talasnal é, de todos os povoados serranos, talvez o mais peculiar, quer pela sua localização, arquitectura e até mesmo pelo tamanho mais dilatado. As casas muito juntas nascem do chão como espigões. A separá-las, vielas estreitas e sinuosas que dão a perfeita ideia de labirinto.
Lá do alto e olhando para fundo, observa-se a ribeira de São João, que mais à frente toma o nome de rio Arouce... e a partir dali, vale abaixo, as Acácias como um exército triunfante parecem querer tomar conta da serra.
Ao se falar da Serra da Lousã não se poderia esquecer do Castelo de Arouce situado no topo de um outeiro e que se assemelha à quilha de um navio. Este castelo parece ter sido edificado com o objectivo de travar o passo às incursões mouriscas vindas de terras mais a Sul. Porém, existe uma lenda segundo a qual, este castelo teria sido construído por Arunce ( Rei de Conímbriga) e pai da princesa Peralta, que, ao fugir duma invasão, encontrou neste contraforte (que a ribeira abraça por três lados) a segurança que buscava para resguardar um imenso tesouro e a sua filha. Todavia, os historiadores dizem que não foi bem assim e entregam ao Conde Sesnando, Moçárabe de Tentùgal, o levantamento da fortaleza, no decorrer do século XI.
Na figura (em cima): O Castelo de Arouce.
No entanto, quer no passado, como no presente, o velho castelo é uma janela para os alcantilados da serra, velando por uma paisagem que se pretende espectacular tal como no tempo em que os guerreiros da reconquista ali se punham de atalaia.
Na Lousã pode visitar o Museu Municipal Prof. Álvaro de Lemos no edifício dos Paços do Concelho, onde se encontram expostos achados arqueológicos, pintura dos séculos XVII a XX, numismática e cerâmica, bem como o Museu etnográfico da Lousã.
Em Castanheira de Pêra pode visitar a Igreja Matriz, de traços setecentistas; a Ermida de Santo António da Nve, no antigo cabeço do Pereiro, e os três Poços do Real Nevoeiro, de onde saía o gelo para a Core em Lisboa; o Jardim da Casa da Criança Rainha D. Leonor e a Casa do Tempo.
Em Figueiró dos Vinhos pode visitar a Igreja Matriz, classificada como Monumento nacional, que encerra obras de grande valor artístico; a Igreja do Convento das Carmelitas, do século XVII; a Torre da Candeia, no centro histórico da vila e ainda Casa-Museu José Malhoa, construída no final do século XIX.
Na figura (em cima): Casa-Museu José Malhoa, construção do século XIX com painéis de azulejos de Bordalo Pinheiro no exterior.
Em Miranda do Corvo pode visitar a ponte manuelina, que liga as duas margens do rio Ceira e o Santuário do Senhor da Serra, notável exemplo da arte revivalista portuguesa, segundo o estilo neo-romântico.
Na figura (em cima): à esquerda - Pedra Letreira de Alvares, o encontro com a história;
à direita - O Caminho de Santiago.
Em Góis pode visitar a História milenar inscrita na Pedra Letreira de Alvares; a Igreja Matriz, instituída em 415,a vista do alto dos penedos de Góis e ainda o Caminho de Santiago.
De fcto, do alto da Beira litoral, a Serra da Lousã tem muito para ofecerer. Pelos caminhos onde pontificam o xisto e o quartzito, pode-se percorrer florestas e socalcos intermináveis, até se chegar a aldeias que são verdadeiros museus ou a ribeiras crsitalinas onde ainda hoje giram azenhas e se pescam trutas.

3 comentários:

  1. Mais uma vez obrigado por divulgar a nossa "Terrinha", como eles dizem lá no diHITT. (rs)

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  2. JÁ VISITEI A SERRA DE LOUSÃ, E ACHEI A PAISAGEM MARAVILHOSA: QUANDO PODER VOU LÁ VOLTAR...

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  3. Só uma pergunta. Eu vou lá caminhar, quero saber se tem muitas subidas. Se sim são muito grandes?
    Obrigado

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