Francisco Pizarro e o Império Inca

Francisco Pizarro: o conquistador do Império Inca
Em meados do século XVI, Francisco Pizarro, um semianalfabeto destemido, partindo do Panamá, conquista para a Espanha o maior império da América, o dos Incas, então o povo mais desenvolvido do Novo Mundo. Pizarro avançou decidido praia fora. Desembainhou a espada, fez com ela um círculo na areia, e disse: "Companheiros! Daquele lado, está o Panamá, com a fome, a pobreza e a miséria que todos conhecemos. Para sul fica o Peru com todas as suas riquezas e tesouros. Cada um que escolha o que mais lhe convém. Eu vou para Sul". Depois de um longo silêncio, 13 homens cruzaram a linha traçada na areia. Estavam dispostos a seguir o líder.
Os outros, em número superior a 100, permaneceram onde se encontravam. No entanto, aquela minoria, aparentemente ridícula, iria fazer história, conquistando para a coroa espanhola todo o território ocupado então pelo império inca. O comandante era Pizarro e o cenário a ilha de Gallo, na costa colombiana. Francisco Pizarro nasceu em Trujillo, na Extremadura espanhola, por volta de 1475. Para esta indefinição concorre o facto de ser filho natural de Gonçalo Pizarro, um oficial que se distinguiu combatendo em Itália. Sobre os seus primeiros anos de vida as notícias são contraditórias.
Há quem diga que foi abandonado à porta de uma igreja, um preceito habitual naquele tempo para os filhos indesejados, tendo sido amamentado com leite de uma porca. Outros dizem que foi criado num ambiente materno normal. O certo é que teve uma infância pobre e uma educação descuidada, aprendendo a ler e a escrever já adulto, quando as necessidades no Novo Mundo a isso o obrigaram e mesmo assim fê­lo sempre de forma rudimentar. O acaso levou-o a embarcar para o Novo Mundo. Um dia, quando apascentava porcos, deixou fugir alguns e, com receio de represálias paternas, revolveu fugir para Sevilha e dali embarcou para Santo Domingo, na ilha de Hispaniola.
É dado adquirido que em 1509 acompanhou Alonso de Ojeda na fundação da colónia de S. Sebastião, no golfo de Urabá, naquilo que hoje fica entre o Panamá e a Colômbia. Por Ojeda foi nomeado capitão, cargo onde se debateu com muitas contrariedades face às investidas dos índios, à fome e às enfermidades. Tanto assim que os colonos tiveram que abandoná-la. Depois disso sabe-se que também acompanhou Vasco Nuñez Balboa no descobrimento do mar do Sul, ou seja, do oceano Pacífico. Aliás, foi aqui que pela primeira vez teve notícias da existência do Peru e das suas riquezas. Contavam-se histórias fabulosas do império inca, onde havia magníficos palácios com paredes revestidas a ouro. Contudo, destas expedições logrou Pizarro mais fama que proveito, pois quando veio a Espanha, em 1529, necessitou de pedir dinheiro emprestado para a viagem.
Porém, o seu desejo de conquistar a região de que havia tido notícias pela expedição de Balboa foi reforçado quando ouviu as histórias de Pascual Andagoya, que, recém-chegado das margens do rio San Juan, depois de travar conhecimento com importantes factos do império inca, teve de regressar ao Panamá por motivos de saúde.
Então, mais do que nunca, Pizarro estava decidido a empreender uma expedição àquelas terras andinas. Estabeleceu um acordo com Diego Almagro e com o padre Fernando de Luque, tendo este último angariado 20 mil pesos para custear a expedição. Aos dois primeiros competia construir um navio. Com o devido consentimento do governador Pedra Arias Dávila - conhecido também por Pedrarias - Pizarro zarpou no dia 14 de Novembro de 1524 rumo a sul. Com ele seguiam 114 homens e alguns índios como intérpretes. Almagro segui-lo-ia quando tivesse preparado o outro barco, enquanto Luque ficava a velar pelos interesses comuns.
No arquipélago das Pérolas deu-se a primeira paragem. Depois de atravessarem o golfo de S. Miguel internaram-se no rio Ború. Regressaram ao litoral e continuaram a percorrer a orla costeira, encontrando somente pântanos, mato e penhascos abruptos. Depois de 70 dias de penosa navegação, na época das chuvas e com ventos contrários arribaram a um porto a que chamaram da Fome. Restavam somente oitenta homens. Pizarro ordenou que o barco seguisse para a ilha das Pérolas em busca de provisões, enquanto ele e parte da tripulação permaneciam ali, naquele lugar inóspito, procurando sobreviver tomo pudessem. Esperava-se que o navio se ausentasse 12 dias na busca de provisões, porém o seu regresso fez-se 47 dias depois. O atraso tragou mais vinte vidas. Recomposta a tripulação, a navegação prosseguiu até um porto a que chamaram de Candelaria, por haverem chegado no dia daquela festa religiosa. Depois, dirigiram-se mais para sul atingindo uma povoação que denominaram Queimado.
Aqui tiveram que enfrentar a hostilidade das tribos índias inimigas. Constatando o estado de debilidade dos seus homens, o extremenho resolveu regressar ao Panamá. Em Cuchama, não muito longe da ilha das Pérolas, encontrou Almagro, que entretanto viera em auxílio dos expedicionários. De comum acordo resolveram regressar ao Panamá para aí prepararem uma "grande viagem ao império inca". O retomo dos exploradores, que já haviam sido dados como mortos, criou uma onda de entusiasmo no­ Panamá. Objectos de ouro e prata e alguns peruanos e lamas constituíam a prova da existência do rico Peru.
Apesar desta certezas, Pedra Árias mostrou-se indisponível para financiar outra expedição. A um simples governador colonial não cabia decidir tão importante empresa. Para obter anuência régia, Pizarro deslocou-se a Espanha e, em Toledo, diante do todo-poderoso Carlos V, convenceu o rei a custear a empresa para a conquista do império inca que tinha fama de ser mais rico que o azteca, por isso o monarca não hesitou em dar o seu aval. Pizarro obteve do rei o título de cavaleiro de Santiago, a nomeação como capitão-geral e governador de 200 léguas da costa de Nova Castela (Peru) e uma pensão de mil ducados. A Almagro era concedido o governo da cidade de Tumbes e uma pensão de 500 ducados. Luque era feito bispo de Tumbes e protector-geral dos índios de Nova Castela. Esta diferença de tratamento revelar-se-ia fatal na amizade entre os exploradores e contribuiu para a morte de Pizarro.
Na figura (em cima): cenas da vida indígena: antes de os conquistar, havia que referenciar hábitos...

Finalmente, com soldados embarcados na metrópole, a que se juntaram alguns estacionados no Panamá e na Nicarágua, a expedição partiu nos primeiros dias de Janeiro de 1531. A bordo dos três navios seguiam 180 homens e 37 cavalos. A acompanhar Pizarro embarcaram os seus irmãos João e Gonçalo, o meio-irmão Fernando Pizarro e um primo ainda adolescente, Pedro Pizarro, que mais tarde escreveu um relato acerca da conquista do Peru. Almagro manteve-se no Panamá e segui-lo-ia logo que obtivesse reforços. Ventos e correntes contrárias alteraram os planos da expedição que deveria dirigir-se directamente a Tumbes, na entrada do golfo de Guayaquil, naquilo que hoje corresponde ao Equador.

Pizarro resolveu efectuar grande parte do percurso por terra, enquanto os navios seguiam um rumo paralelo junto à costa. Levaram meses, em vez de semanas, a chegar ao golfo de Guayaquil. Quando alcançaram Tumbes, a desilusão foi enorme. Aquela magnífica cidade encontrava-se em ruínas e toda a sua população bem como o ouro e prata haviam desaparecido. Efectiva­ mente, o império inca estava a ser sacudido por uma guerra de sucessão. Dois irmãos, Atahualpa e Huáscar, disputavam o trono e o segundo tinha sido feito prisioneiro do primeiro. A destruição de Tumbes mais não era que o resultado desse conflito sucessório.

Após a ocupação de Tumbes, Pizarro passou meses a explorar os vales irrigados contíguos à cidade. Em Maio, fundou San Miguel, a primeira colónia espanhola no Peru. A 24 de Setembro de 1532, iniciou, com 177 homens, a marcha rumo a Cajamarca, cidade onde sabia encontrar-se o soberano Atahualpa. No dia 15 de Novembro desse mesmo ano, a caravana acercou-se de Cajamarca, situada num planalto a 2.740 metros de altitude. Porém, a cidade encontrava-se deserta. Atahualpa ordenara a sua evacuação e assentara arraiais 5km para Sul, num vale fértil.
Quando avistaram o acampamento, os espanhóis aperceberam-se pela primeira vez da extraordinária desvantagem numérica. "Aquele espectáculo provocou-nos algo semelhante a confusão e até mesmo receio ... Era, porém, demasiado tarde para retroceder ... Assim, com o ar mais ousado que conseguimos aparentar, preparámo-nos para entrar em Cajamarca", escreveu um soldado. Nesse mesmo dia as tropas forasteiras aquartelaram-se em volta da praça principal da cidade. Pouco depois Pizarro enviou uma dúzia de cavaleiros convidando o rei inca para um encontro no dia seguinte, tendo este aceite. Nessa noite Pizarro passou a noite a magicar a melhor forma de aprisionar o imperador.

Na figura (em cima): Em Queimado, a caminho do Peru, Pizarro teve de enfrentar a hostilidade das tribos indígenas locais.

Na manhã seguinte combinou com os seus homens: a chegada de Atahualpa seria somente presenciada por ele, o capelão Vicente Valverde e meia dúzia de homens. Os outros deviam permanecer escondidos e quando ouvissem o grito "Santiago" todas as armas de fogo deveriam disparar enquanto ele e os mais próximos capturavam o rei. Quando Atahualpa chegou à praça com o seu magnífico séquito, o padre Valverde deu-lhe as boas-vindas, falou-lhe de Jesus Cristo e pediu-lhe submissão à fé cristã e à coroa espanhola. Atahualpa, irritado, afirmou: "A minha fé essa não a abandonarei."
Valverde mostrou-lhe a bíblia. O rei, que desconhecia o objecto livro, abriu-o, folheou-o e arremessou-o para o chão. Perante tal sacrilégio, Pizarro agarrou-o pelo braço e lançou o grito de guerra combinado. Deu-se uma explosão de fuzilaria, cavaleiros e peões saíram do esconderijo e irromperam pela praça. Surpreendidos, muitos índios fugiram em pânico. A batalha não durou mais de meia hora. Atahualpa foi humilhado e preso. Acabaria por ser condenado à morte, depois de ter tentado negociar sem êxito a sua libertação. Era o triunfo de Pizarro. Porém, a sua vida seria interrompida aos 67 anos, no palácio do governo, em Lima, às mãos de conterrâneos que se sentiram traídos. Segundo a lenda, antes de morrer o conquistador terá desenhado, com o próprio sangue, uma cruz no chão.
-->Quando Atahualpa, imperador dos incas, foi feito prisioneiro pelos espanhóis, em Cajamarca, tentou logo negociar a sua libertação. Consciente do valor que o ouro tinha para os europeus, propôs, em troca da sua liberdade, atestar de ouro uma divisão com 7m de comprimento, 5m de largura e 2m de altura. Não contente, Pizarro exigiu ainda que se enchesse de prata outro aposento, com o dobro da dimensão. Aceite o acordo, durante dias a fio aqueles preciosos metais foram retirados de templos, casas e edifícios faustosos. Só do Templo do Sol, em Cuzco, foram extraídas 700 chapas de ouro.
Francisco Xeres, secretário do comandante, anotou: "Assim, em alguns dias chegaram 20 mil, noutros 30 mil, noutros 50 mil pesos de ouro." Pizarro, dando pouco valor à arte indígena, resolveu fundir todo o metal. No fim da operação o resgate ascendia a 6.000kg de ouro e a 11.700 de prata. Todavia, receando uma possível reorganização do exército inca, Pizarro não cumpriu o acordo. Atahualpa foi condenado a uma morte herege na fogueira. Contudo, o baptismo de última hora permitiu-lhe ser "somente" enforcado.

4 comentários:

  1. o título certo seria: "Francisco Pizarro: o DESTRUIDOR do Império Inca"

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  2. Espanha e Portugal foram predadores dos povos Americanos. Visitei na Corunha uma igreja onde todo o altar esta coberto de ouro dos Incas.
    Não souberam aplicar esse imenso botim roubado e hoje (2012) são povos em total decadência apenas visando pilhar outros povos como Libia.

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  3. Minha prof- pedio para eu fazer o trabalho sobre essa coisa mas isso não tem nada a ver com o que ela ensinou. =(

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  4. Recentemente o renomado historiador português,igualmente poeta, José-Augusto França escreveu que :

    '' A colonização não enriqueceu nem Lisboa nem as colónias. apenas "serviram as elites tradicionalmente parasitárias em Portugal e criaram novas elites parasitárias nas colónias", enquanto o povo ficou excluído''
    Foi a mesma coisa que aconteceu com a vizinha Espanha.Miséria lá e cá no cone sul.

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