Reinhold Messner - o melhor montanhista do mundo

Reinhold Messner - o primeiro a subir o Everest sem oxigénio e o primeiro a atravessar a pé a Antárctida
"A verdadeira arte de escalar é a sobrevivência, e o ponto onde se torna mais difícil é quando, já se dominando o que até então considerávamos o epítome do sucesso, tentamos ainda avançar para um nível superior."
Estabelecer O limite pelo qual os outros são julgados não é tarefa fácil. Quando se trata então de escalar os picos mais altos do Mundo, o mérito da façanha ainda é mais aplaudido. E se de facto todos sabemos que feito alcançaram Sir Edmund Hillary e o sherpa Tenzig Norgay, é impensável que o nome de Messner nos seja desconhecido. Ele foi o primeiro a subir o Evereste sem oxigénio, o primeiro a alcançar o topo da mesma montanha sozinho, e o primeiro a escalar todos os 14 picos do Mundo com mais de 8.000 metros de altitude.
Não contente com estes sucessos, tem, nos últimos anos, dedicado a sua atenção para os confins da Terra, atravessando a Gronelândia de uma ponta à outra, viajando, apenas com um companheiro, pelo continente antárctico, via Pólo Sul, e fazendo esqui sobre o gelado oceano Árctico, do Pólo Norte.
Este aventureiro destemido, que escala desde os cinco anos, nasceu em 1948, em Villnoss, no Tirol do Sul, Trentino, Alto Ádige. Escreveu mais de 30 livros ("Everest: Expedition to the Ultimate" , "To the Top of me World", "The Crystal Horizon" e "All Fourteen 8000'ers", são alguns exemplos) e, na Alemanha, na Itália e na Áustria goza um estatuto semelhante ao de uma mega-estrela de cinema. Nestes países, admiram­lhe a tenacidade e autoconfiança, respeitam-lhe a experiência e tentam aprender com a sua técnica de execução inovadora e ousada.
De facto, Messner sobrevive porque não teme arriscar novas abordagens. E nem mesmo a morte do seu irmão, Gunter, numa avalanche durante a primeira expedição de ambos aos Himalaias, o demove. Curiosamente, Messner já foi membro do Parlamento Europeu, em Bruxelas.
Muito carismático, o italiano foi um orador capaz de prender a atenção de uma plateia. E não lhe falta uma certa vaidade - para ele, os seus feitos "são tão importantes como o avanço humano nas mais variadas áreas". Messner considera que é preciso "ter a noção dos riscos mas que a aprendizagem advém dos passos que se dão em frente, em direcção ao desconhecido". O grande contributo do aventureiro talvez se possa resumir assim: escalar sim, mas consciente de que são necessários meios adequados e que, muitas vezes, o menos é o mais. Ou seja, só com determinados acessórios se chega ao final. É uma espécie de jogo de computador. Se logo ao início escolhermos a equipa errada, jamais desvendaremos o mistério ou salvaremos o que quer que seja. Simples mas efectivo.
Depois de Hillary e Tenzig terem, em 1953, alcançado o topo da montanha mais alta do Mundo sucederam-se outros recordes. Durante três décadas, o Evereste foi palco de outros feitos: a primeira escalada realizada por uma mulher, a primeira subida solitária, a primeira subida por um lado e descida por outro e a primeira descida em esqui. Mas todos estes bravos dependiam de garrafas de oxigénio para realizarem as façanhas de grande altitude. Poderia o Evereste ser conquistado sem ele? Desde 1920, a comunidade montanhista debatia os prós e os contras de uma tal ascensão sem oxigénio.
Um dos defensores de que nada deve interpor-se entre o escalador e a montanha, George Leigh Mallory, argumentava que este devia "confiar nas suas habilidades naturais, que o avisam se ele está a abusar ou não da sua força. Com ajuda artificial, expõe-se a um súbito colapso, caso os aparelhos falhem."
E, 50 anos mais tarde, duas pessoas deram-lhe inteira razão. Reinhold Messner e Peter Habeler. Na década de 70 já Messner era famoso por ter completado uma série de subidas a rochedos alpinos sem o uso de protecções metálicas. Em 1974, com Habeler, o par decidiu arrebatar o mundo do montanhismo. Os dois escalaram o Matterhom e o Eigerwand num tempo recorde. Em 1975, realizaram uma notável subida à 11.ª montanha mais alta do Mundo, a Gasherbrum, sem usarem oxigénio suplementar. E, em 1978, ambos decidiram subir o Evereste sem garrafas de oxigénio.
Tanto os colegas como os médicos criticaram-nos severamente. Foram apelidados de lunáticos e todos concordaram que esta aventura certamente lhes provocaria danos irreversíveis no cérebro. Falavam com alguma certeza. Segundo expedições anteriores, o nível do oxigénio, a determinada altura no Evereste, apenas é suficiente para um corpo a dormir e não para o escalador extenuado pelo esforço árduo da subida.
Apesar da controvérsia, Messner e Habeler não desistiram do seu plano. Partiram com uma expedição austríaca mas depois, os dois, separar-se-iam. As equipas chegaram ao Evereste em Março de 1978 e, no dia 21 de Abril, Messner e Habeler, iniciaram a sua primeira tentativa. Dois dias mais tarde alcançaram o Campo III. Mas nessa noite, Habeler adoecera devido a uma lata de sardinhas estragada. Messner decidiu continuar a subir, sem o seu companheiro debilitado e, na manhã seguinte, partiu com dois sherpas. Foram apanhados por uma tempestade violenta - a temperatura baixou aos 40º negativos - e, durante dois dias, os ventos sopraram com força diabólica. Saturado de lutar contra uma tenda desfeita e uma fome horrível, até Messner mais tarde admitiu ter pensado que a sua aventura era "impossível e desajuizada". Por fim, uma aberta no tempo, permitiu-lhes descer até à base para recuperarem.
Nessa altura, Messner e Habeler ponderaram se iriam fazer mais uma tentativa ou não. Habeler já estava a considerar o uso de oxigénio, mas Messner permaneceu fiel à ideia inicial, dizendo que ele não iria usá-lo nem subiria com quem o usasse. Acreditava que subir o máximo possível, sem oxigénio, era mais importante do que alcançar o topo. Habeler lá aquiesceu e ambos partiram de novo. No dia 6 de Maio, alcançaram o Campo m (7.200 metros) com facilidade. A partir dali já podiam esperar os efeitos da ausência de oxigénio. Messner e Habeler concordaram em carregar dois cilindros de oxigénio para o Campo IV, em caso de emergência, e fizeram um pacto de regressar para trás, caso algum deles perdesse a coordenação ou o discurso. No dia seguinte, em três horas e meia, a altitude percorrida já era de 7.986 metros. Habeler queixou-se de dores de cabeça e visão dupla mas sentiu-se melhor depois de descansar, embora os dois homens acordassem frequentemente do seu sono leve, arquejantes.
Às 3hOO do dia 8 de Maio, os dois acordaram e prepararam-se para o assalto final: o topo. Levaram duas horas apenas para se vestirem. Como cada inspiração do pouco ar era agora preciosa, os dois passaram a comunicar só com as mãos. O progresso foi muito lento e demoraram quatro horas a alcançar o Campo V (8.500 metros), onde descansaram durante 30 minutos. Estavam apenas a 260 metros do topo sul.
Quando continuaram, estavam tão exaustos que de tantos em tantos passos apoiavam-se nos seus machados de gelo e pareciam sufocar. Mais tarde, Messner disse que teve a sensação de que se ia desfazer. À medida que subiam mais, caíam de joelhos e chegaram mesmo a deitar-se, a fim de recuperarem a respiração.
Quase a alcançarem o topo, os dois homens ligaram-se um ao outro, com cordas. Faltavam-lhes 88 metros. Entre a apatia e o desafio, alcançaram o chamado "Hillary Step" e continuaram, alternando a liderança e descansando várias vezes. Aos 8.800 metros já não estavam ligados com cordas mas sentiam­ -se tão afectados pela falta de ar que desmaiavam frequentemente. Messner falou para o gravador: "A respiração toma-se tão difícil que já quase não temos força para continuar." Ele disse que parecia que a sua mente tinha mor­ rido e que era apenas a sua alma que o compelia a rastejar em frente.
Algures entre a uma e as duas da tarde do dia 8 de Maio de 1978, Messner e Habeler conseguiram o que era considerado impossível: a primeira subida ao monte Evereste sem oxigénio. Messner, ao recordar o que sentiu, referiu ter estado num "estado de abstracção espiritual, já não pertencia mais a mim próprio ou à minha vista. Era apenas um estreito e aflito pulmão, a flutuar por cima do nevoeiro e dos picos".
Dois dias depois, foi com júbilo que alcançaram o campo-base. Tinham conseguido baralhar a comunidade médica e, consequentemente, a fisiologia da alta atitude teve de ser reavaliada. Messner regressaria à montanha mais alta do inundo em 1980, para empreender com sucesso uma subida sozinho e, claro, sem oxigénio suplementar.
Ultimamente fascinado pelas expedições polares, em 1990 foi o primeiro a atravessar o continente antárctico a pé. Mais tarde, tentou o Árctico mas a expedição falhou, embora prepare uma nova tentativa. No Verão do ano passado, regressou ao Nanga Parbat (já o subiu sozinho), com o irmão Hubert e mais dois companheiros, mas desta vez, apesar de terem subido bastante, foi muito perigoso atingir o topo.
Messner é também um dos poucos ocidentais a dizer que viu o Yeti, o famoso" abominável homem das neves". Assevera que já o encontrou em duas ocasiões, a última das quais durante uma expedição a Karakorum - até lhe tirou fotografias para servirem de prova, que foram publicadas no seu livro mais recente, editado em 1999.
Há quem considere, referindo-se à personalidade de Messner, que ele "mudou com a altitude". Muitos suspeitam até que a falta de oxigénio provocou-lhe danos irreversíveis no cérebro. Curiosamente, um famoso sherpa, Nazir Sabir, que já subiu com Messner, garante que lhe ensinou a arte de fumar haxixe a grandes altitudes.
É muito fácil (tentar) desvalorizar os feitos de pessoas célebres, mas também é natural que o sucesso de Messner o leve a divagar um pouco, de vez em quando ... Mas a verdade é que este aventureiro austríaco permanecerá sempre um escalador único, um herói para as gerações de montanhistas do séc. XXI.
Acessórios de outros tempos
Muito antes de Reinhold Messner alertar para a vantagem de se levar pouca coisa nas expedições, os exploradores do séc. XIX não imaginavam sequer que fosse possível abdicar de todo o luxo da civilização. Exemplo disso é o relato das bagagens que Serpa Pinto e os seus dois companheiros levaram com eles na travessia africana. Vejamos: "Só malas, tínhamos 17' Uma era toucador perfeito, contendo um grande espelho, uma bacia, caixas para escovas e mais objectos competentes; outra continha um serviço de mesa e chá para três pessoas; e uma terceira, o trem de cozinha".
Outras três malas tinham "na parte superior, um estojo de costura, escrivaninha e lugar para papel. As outras dez malas continham indistintamente roupas, calçado, instrumentos e outros objectos de reserva". A tudo isto se juntou o equipamento científico, médico e as provisões alimentares. Ah! E as armas. Curiosamente, em África, muitas das malas foram abandonadas por ausência de carregadores. Outros tempos, em que os aventureiros pareciam querer levar a própria casa às costas ...
A incomparável Hawley
Apesar de nunca ter subido a uma montanha na sua vida, Elisabeth Hawley, de 78 anos, instalada no seu escritório, em Katmandu, rodeada de livros e de chávenas de chá, documenta todas as ascensões nos Himalaia. Há já 40 anos que envia crónicas destas subidas para a agência Reuters e, mais recentemente (há 20 anos), iniciou uma estatística exaustiva de todas as ascensões à cordilheira mais alta do Mundo. O seu trabalho, constante e metódico, converteu-a numa espécie de certificado de autenticidade, e a sua palavra, no mundo d a montanha, é sagrada.
Grande amiga de Sir Edmund Hillary, esta norte-americana nunca casou e dedicou-se a esta tarefa porque constatou que não havia qualquer registo similar e oficial. Frágil, com os seus casacos de malha e óculos encavalitados num nariz fino e direito, é curioso imaginá-Ia a falar com os atléticos montanhistas e a bombardeá-los com perguntas. Parece uma idosa inofensiva, mas o seu interrogatório é lapidar e apanha todos os que se atrevem a mentir e a inventar. Para ela, o alpinista mais importante que conheceu não é Hillary, que aliás considera uma pessoa magnífica, mas antes Reinhold Messner.
Porquê? Por ter sido pioneiro em muitas coisas: "Foi o primeiro a aplicar diversas técnicas, o primeiro, com Peter Habeler, a fazer subidas sem oxigénio, mesmo ao próprio Evereste. Fez imensas coisas inovadoras e ensinou muitas pessoas a escalar, com o que ele designava por 'meios necessários', sem demasiados acessórios." Encantada pela paisagem mágica das montanhas, Miss Hawley, não se vê no terreno-alvo do trabalho da sua vida. O motivo é simples: "Sou muito preguiçosa e gosto de dormir todas as noites numa cama e ter comida quente e variar de menu. Não quero ir lá para cima." Quem sabe, sabe ...
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2 comentários:

  1. Muito legal teu blog, tudo bem distribuído na página, aproveitei para ver algumas propagandas interessantes tb!

    Abraços!

    Bill

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  2. E ai, blz? Tomei a liberdade de comentar nesse post por ser o mais atual. Mas eu quero mesmo é falar de um post sobre calvicie.

    Parabéns! Armei um blog pra falar sobre o assunto tbm... e pra manter os cabelos na cabeça, óbvio hahaha. Apareça por lá pra trocarmos umas idéias.

    Abç.
    Pedro

    www.naoqueroficarcareca.wordpress.com

    OBS: vou aproveitar e te add nos meus favoritos flw.

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