Depressão: como agir

Depressão: como actuar atempadamente
Todos os anos milhões de homens e mulheres sofrem de depressão, o que torna esta, de longe, a mais comum das doenças mentais graves em muitos países. Pior ainda, alguns milhares doentes depressivos, incluindo um número alarmante de adolescentes, acabam por suicidar­se muitas vezes, segundo se crê, antes de a sua doença ter sido identificada.
Vários estudos realizados em diversos países, revelam que apenas um terço dos doentes que sofrem de depressão procura tratamento. No entanto, quando tratados, 80 a 90% deles podem ser ajudados através de novos medicamentos e de terapia e podem nunca mais ter manifestações da doença, desde que aqueles que os rodeiam notem a tempo os seus problemas e o tratamento comece prontamente.
A depressão clínica não deve ser confundida com melancolia. Toda a gente passa por breves períodos de tristeza ou de melancolia. E algumas vezes a depressão surge por razões perfeitamente compreensíveis: a morte de um ente querido, a perda do emprego ou o desfazer de um casamento. Mas a maior parte das pessoas adapta-se gradualmente a essas perdas. A depressão clínica difere da melancolia em termos de duração e gravidade. Para algumas pessoas pode estar associada a perturbações bioquímicas ao nível dos neurotransmissores do cérebro.
Nas pessoas com tendência para a depressão, o que aparece como uma reacção normal passa a adquirir um funcionamento bioquímico autónomo. Os sistemas reguladores continuam a funcionar, e a pessoa sente uma perda total de energia e de interesse.
Se não for tratada, dá-se frequentemente uma recaída, e a cada recaída aumentam as probabilidades de mais uma crise. Metade daqueles que passam por uma primeira crise não tratada terão uma segunda, e depois da terceira há 90% de hipóteses de virem a ter uma quarta. Por isso, o tratamento feito logo no início dos primeiros sintomas é essencial.
As perturbações depressivas ocorrem sob duas formas principais. A doença unipolar é caracterizada apenas por manifestações de depressão - desânimo periódico e perda da esperança, indo de situações moderadas a graves. Na doença bipolar (ou maníaco-depressiva), a pessoa oscila entre extremos, com períodos de depressão alternando com outros de grande euforia e comportamento estranho, tal como falar sem parar ou gastar dinheiro irreflectidamente. Por razões desconhecidas, cerca de dois terços dos pacientes da doença unipolar são mulheres. Os casos bipolares distribuem-se mais uniforme­ mente pelos dois sexos. Qualquer de­les atinge todos os grupos etários.
De acordo com os especialistas, os sintomas clássicos de depressão grave incluem:
-->Alterações pronunciadas do sono;

-->Perda de apetite e/ou de peso, ou, pelo contrário, apetite exagerado e aumento de peso;

-->Estados de espírito persistentemente tristes, ansiosos ou «vazios»;

-->Falta de esperança ou pessimismo;

-->Sentimentos de culpa, de incapacidade, de inferioridade;

-->Fadiga ou perda de energia;

-->Pensar ou falar na morte ou no suicídio; ameaças ou tentativas de suicídio.

Existem, no entanto, outros sinais de aviso da depressão que não são tão óbvios e que não correspondem à imagem vulgarizada do depressivo como uma pessoa triste e distante. Muitas vezes, são tão subtis e vagos que são mal interpretados pela família e pelos amigos. Até mesmo os médicos podem não dar por esses sintomas ou então minimizá-los e, no entanto, a identificação atempada dessas pequenas pistas pode significar literalmente a diferença entre a vida e a morte.
Quais são esses sinais mal conhecidos da depressão? A palavra-chave é mudança - qualquer coisa não habitual acerca da pessoa. E claro que uma simples diferença de comportamento isolada não significa automaticamente uma depressão. Mesmo assim, se se observar alguns dos sintomas que adiante se descrevem, quer súbita, quer gradualmente, é porque alguma luzinha se deve ter apagado no cérebro.
Silêncio súbito.
Um jardineiro de 54 anos que vivia na zona norte do estado de Nova Iorque e que normalmente era bastante conversador durante o jantar com a família, descrevendo à mulher e aos dois filhos os acontecimentos do seu dia de trabalho, tornou-se subitamente silencioso à mesa. Noite após noite, não dizia uma palavra. Sempre que a mulher referia esse silêncio, respondia­lhe bruscamente e anunciava que ia deitar-se. Como aquela situação não habitual se mantivesse, a mulher sugeriu-lhe: «Talvez fosse bom ires consultar um médico.» Ele recusou.
Finalmente, cerca de dois meses mais tarde, depois de ler num jornal um artigo sobre a depressão, resolveu procurar ajuda. Em breve, estava a ser tratado a uma depressão grave. Depois de ultrapassada essa crise depressiva, admitiu que a ideia de suicídio «chegou a passar-lhe pela cabeça», mas finalmente a sua vida estava novamente em ascensão. Geralmente, a pessoa deprimida afasta-se do contacto com os outros e quer estar só com os seus pensamentos mórbidos de auto-acusacão. Contudo, muitas vezes acontece que o ou a doente cumpre mecanicamente as suas tarefas do quotidiano, especialmente no emprego, de modo que o «afastamento» pode não ser completamente evidente.
Exagerar pequenos nadas. «o meu chefe não veio ter comigo para me cumprimentar», queixava-se o marido à mulher, depois de uma festa no escritório. «Se calhar, está zangado comigo.» A mulher argumentou que ele também não atravessara a sala para ir falar ao chefe. E também lhe fez notar que o local estava apinhado de gente e que o chefe só lá ficara durante muito pouco tempo. Mas o marido não se deixou convencer.
A um nível muito subtil, aquele que sempre viu o copo meio cheio passa a vê-lo meio vazio. Pequenos factos que antes teriam parecido perfeitamente insignificantes passam a ter muita importância e a tornar-se motivo de grande preocupação.
Esquecimentos.
Quando uma secretária, residente em Coimbra (Portugal), trabalhava numa empresa de fotocópias, começou a ficar cada vez mais esquecida. Tinha de verificar as moradas e as entrevistas mais de uma vez e chegou mesmo a ter de parar o carro na berma da estrada para se lembrar aonde ia. «Disse ao meu médico que julgava ter a doença de Alzheimer, embora estivesse apenas na casa dos 40», afirmava ela. «Ele pediu-me para contar de diante para trás e para dizer de cor algumas coisas mais, e depois disse-me: «O seu caso é apenas uma questão de stress. Vá para casa e descanse.» Este médico não procurou ir mais fundo, e, não muito depois, a depressão atingia-a. No entanto, mais tarde, tratou-se e recuperou.
Irritabilidade.
Um director de enfermagem em Paris, estava a falar com uma enfermeira cujo marido não queria que ela trabalhasse de noite. Em vez de discutir o assunto, o director retorquiu com brusquidão: «O que é que ele quer? Ele não sabe que as enfermeiras trabalham de noite? Por que se casou então com uma?» A irritabilidade e a cólera são o manto com que os depressivos muitas vezes disfarçam a sua tristeza e isolamento. Infelizmente, uma resposta colérica ou irritada ainda torna as coisas piores. Os outros podem ripostar no mesmo tom, transformando uma discussão sem grande importância numa verdadeira «tempestade». Resultado: a pessoa deprimida sente-se pior a respeito de si mesma, tornando a depressão ainda mais acentuada.
Refúgio na rotina.
Um homem cujas paixões eram o teatro e o baseboI começou a ficar em casa, mantendo a sua actividade limitada a uma rotina estabelecida. Quando a mulher lhe sugeriu a ida a um determinado espectáculo, recusou com brusquidão. Este comportamento era nele tão fora do normal que a mulher resolveu consultar o médico da família, que, após a confirmação de outros sintomas, começou a tratá-lo de depressão. Um primeiro sinal é quando uma pessoa que sempre foi dinâmica e interessada por diversas actividades passa a ter uma atitude passiva e a refugiar­se no banal quotidiano.
Aspecto descuidado.
Uma directora de uma Clínica de Medicina Comportamental dos Serviços de Saúde de Stanford, na Califórnia, fez notar que o facto de uma pessoa começar de repente a desinteressar-se pelo seu próprio aspecto pode ser um sinal da doença. «Pode acontecer que uma pessoa que sempre teve grande preocupação com o seu aspecto e um cuidado extremo com a maneira de vestir passe de repente a desinteressar-se de tudo isso e a mostrar-se desleixada», afirmou. «Isto pode ser um sintoma de depressão - uma perda de interesse ou de prazer, uma ausência de atenção por si mesmo.»
Indecisão.
Uma mulher começou a ter dificuldade em escolher o que queria comer nas listas dos restaurantes. «Escolhe por mim», dizia ao marido. Do mesmo modo, em casa e com o telecomando na mão, não conseguia tomar uma decisão sobre o canal de TV que queria ver. A indecisão acompanha muitas vezes a falta de concentração dos pacientes com depressão; às vezes, é o único sintoma. Tomar decisões torna­se um fardo excessivamente pesado.
Dores misteriosas.
As pessoas deprimidas podem queixar-se de dores no estômago, nas costas e de outra situações de desconforto que não respondem a tratamentos. As queixas mais vulgares, são as dores e a rigidez musculares e na maioria das vezes torna-se necessário um exame médico completo.
Euforia súbita.
Algumas vezes, uma pessoa mantém-se no mais profundo desespero durante semanas ou até meses e um dia, sem mais nem menos, sai dessa situação e aparece como que liberta. A família pode, enfim, descansar, pensando que o pior já passou. Na realidade, este pode ser o período mais perigoso, exigindo mais, e não menos, vigilância. As «melhoras» podem querer dizer que, após ter procurado, sem sucesso, uma saída para aquilo que pensa ser uma situação sem esperança, o paciente pode ter-se decidido pelo suicídio. As supostas «melhoras» podem reflectir alívio por, finalmente, ter tomado uma decisão sobre o que fazer.
Como ajudar.
O que deve fazer se reconhecer, de maneira persistente, um ou mais destes sintomas num familiar ou num amigo?
Em primeiro lugar, deve falar com essa pessoa sobre o assunto. Tentar descobrir o que ela sente. Se não conseguir convencê-la a discutir o problema, tente uma abordagem do tipo «Fazes-me lembrar o tempo em que estive com uma depressão». Isto pode fazer que ela se abra.
Em segundo lugar, sugira ajuda profissional. Marque-lhe mesmo uma consulta médica, se necessário, e acompanhe a pessoa se lhe parecer que se justifica. Depois, vá acompanhando o caso para se assegurar de que ela toma os medicamentos e vai às consultas. Com antidepressivos, alguém que esteja gravemente deprimido normalmente regista melhoras dentro de quatro a seis semanas. O recurso à psicoterapia requer mais tempo. Muitos médicos utilizam uma combinação dos dois sistemas. Pode, no entanto, acontecer que ao fim de seis meses não haja sinais de recuperação e que seja necessário recorrer durante mais tempo à medicação.
Em terceiro lugar, dê apoio emocional. Não ofereça soluções simplistas, como «Amanhã as coisas estarão melhor». Ajude a pessoa a centrar-se em actividades que ainda lhe agradam - jogar ténis, fazer jardinagem - e a afastar-se das que aprofundam a depressão. Escute-a com compreensão, chame-lhe a atenção para as realidades da situação e manifeste sempre esperança. Sobretudo, não ignore as ameaças de suicídio ou conversas sobre a mor­ te. Considere estas ameaças sérias e não se limite apenas a uma atitude compreensiva.
A depressão é uma doença incapacitante. Mas com uma pequena ajuda de amigos ou familiares atentos e tratamento médico adequado, a maior parte das pessoas cura-se e volta a ter uma vida activa e saudável.

10 comentários:

  1. Muito interessante. Penso que no meu Blog poderão encontrar informação para complementar ...

    http://terapiassexuais.blogspot.com

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  2. Oi,


    Gostei muito do seu texto sobre depressão, tenho 1 amigo que tem esse problema e vou passar esse link pra ele, tks , beijos

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  3. Gosto muito dos assuntos sobre os quais você escreve. São interessantes e esclarecedores.
    Muito bom.

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  4. Já tive depressão e tive que aprender a deixar o orgulho de lado e usar os medicamentos que estão a disposição para ajudar. Claro que com orientação de um psiquiatra.

    Parabéns pela excelente matéria!
    Abraços

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  5. Minha mãe tem depressão há muito tempo..
    As vezes ela ta boa as vezes ta ruin..já fizemos consultas com psiquiatras, psicólogos e etc, porém ela sempre tem recaidas..ela ja tentou suicídio várias vezes e graças a Deus nunca foi bem sucedido!!
    Atualmente ela esta em crise..está muito mal..as vezes ela diz que vai melhorar.. outras vezes diz que a solução pra ela é a morte!! Ela toma medicamento, mas eu não sei mas o que fazer..
    Estamos tentando reanima-la,mas ela criou um ódio, uma raiva de algumas pessoas principalmente do meu pai..culpa ele de tudo..e é muito difícel ter que escutar tudo!!
    Gostei da sua matéria..apesar de eu já saber de quase tudo..ler ela me deu mais ânimo!!

    Parabéns!!

    Abraços

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  6. Gostaria de acrescentar algo que percebi por experiência própria. As pessoas bipolares podem ser ostis com seus companheiros e pessoas que a amam. Uma tolerância equilibrada com técnicas para induzir o outro a reflexão, podem ser eficazes.

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  7. eu tenho depressão e tenho vontade de me matar,eu sinto que eu sou um estorvo para meu marido e meus filhos não tenho passiencia pra nada não sei oo que fazer ja procurei o medico mais não adiantou muito me ajudem ante que eu acabe fazendo algo que deixara minha familia muito

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  8. Depressão Reativa,como devo ajudar e como agir com uma pessoa com este problema?

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  9. Tenho um amor que está com depressão por umaperca muito grande sua esposa a qual ele foi muito bem casado durante 25 anos más ele não quer ir ao médico e eu quero ajudar só não sei como!! Por favor me ajudem pois o amo muito eele tem dois filhos maravilhosos

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  10. eu tenho depressao nao sei como fazer para nao deixar minha familia proculpada mim ajudem.

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