As mais belas lendas do Brasil

A lenda do Curupira
O Curupira é um ser de cabelos vermelhos, corpo peludo, dentes verdes e pés virados. Um duende brasileiro. Seria uma criatura horripilante se não fosse bonzinho. Ele protege os animais da floresta de caçadores maldosos que matam os seus filhotes. Só tolera caçadores que caçam por necessidade. Grita, assobia, imita os bichos para atrapalhar os homens que o seguem até se perderem para sempre no mato.
Um certo dia o Curupira encontrou um índio caçador dormindo na floresta. A criatura tinha muita fome e decidiu comer o coração do homem, que parecia apetitoso. O índio acordou apavorado, mas fingiu não ter medo. Como se fosse muito natural, o Curupira pediu um pedaço do coração do homem. O índio, que não era tolo, pediu para o Curupira fechar os olhos e tirou duma bolsa um coração de macaco. O Curupira comeu, gostou e pediu mais. O caçador, vendo a ingenuidade do outro, pediu em troca um pedaço do coração do duende. Não tendo visto o índio sofrer nada e acreditando que tinha comido o seu coração, o Curupira, que não era lá muito esperto, enfiou a faca no seu próprio peito e caiu morto. O índio fugiu e jurou não voltar mais à floresta.
Um ano se passou quando Jacira, filha do índio, muito vaidosa, pediu ao pai um colar diferente. O caçador lembrou-se que o Curupira tinha dentes verdes que brilhavam como esmeraldas. Voltou à floresta e achou o esqueleto encoberto pelo mato. Quando o índio tentou arrancar os dentes da criatura, o Curupira voltou à vida, recompondo todo o corpo num passe de mágica. O COISA-FEIA agradeceu ao homem por tê-lo ressuscitado. Coitado, não sabia de nada e resolveu retribuir a bondade, dando um arco com flechas mágicas. Era só apontar para uma ave ou um animal e atirar. Nunca erraria o alvo. No entanto, avisou que se apontasse para um bando de bichos, acabaria morto por eles.
O índio tornou-se o maior caçador de todos os tempos. Um dia, esquecendo a recomendação do Curupira, atirou num bando de pássaros, só para ver se acertava em mais de um ao mesmo tempo, exibindo-se para os amigos. Um pássaro morreu, mas os outros atacaram-no. O pobre índio ficou então todo despedaçado. Era a cabeça para um lado e as pernas para outro. O Curupira viu tudo e, com pena, remontou o índio com uma cera encantada. Como nada é tão simples nesta vida, aconselhou o homem a não comer ou beber nada muito quente, senão derreteria para sempre. Essa era a última vez que poderia ajudá-lo. Um dia, a mulher do índio serviu-lhe um prato tão apetitoso que o guloso comeu tudo super quente e super rápido. Coitado, derreteu todinho. Moral da história: Se alguém mata um bichinho indefeso, acaba encontrando o Curupira, ou seja, cedo ou tarde acaba por se dar muito mal.
A lenda do Saci
O Saci é um negrinho de uma perna só, que usa um chapéu vermelho e segura sempre um cachimbo. Pede tabaco a toda agente que encontra. É danado e bastante travesso e adora atrapalhar a vida das pessoas. Vive atiçando os pobres dos cães, assusta constantemente os gatos, dá nós no rabo dos cavalos e deixa o feijão queimar na panela. Briga é com ele mesmo, o pestinha.
Certo dia um carpinteiro e os seus companheiros tinham que construir um barracão no meio da floresta. Como estavam longe do sítio em que moravam, decidiram dormir ali mesmo, quando o dia acabasse. Estavam todos descansando em volta de uma fogueira, conversando e jogando cartas. O carpinteiro resolveu passear, aproveitando o luar na floresta. Sentou­ -se num tronco de árvore perto de um rio, preparando o seu cachimbo. De repente, apareceu um Saci e o homem quase morreu do coração pois nunca tinha visto uma criatura como aquela.
O Saci, muito sem-vergonha, pediu um pouco de tabaco para o seu cachimbo. O carpinteiro, fingindo não ter medo, ofereceu o que tinha. O Saci disse que assim não queria, tinha que ser picadinho. O pobre homem picou o tabaco com um canivete tremendo mais do que vara verde. Mas nem assim o Saci estava satisfeito. Bem cínico, per­guntou ao coitado se ele trabalhava com madeira. Pediu, então, uma PERNA-DE-PAU. Pediu não, mandou o homem fazer. Não queria mais ter só uma perna, queria ser como toda a gente. Isto não era um defeito de nascença, pois todos os sacis nascem assim, só com uma perna. Mas ele queria duas e pronto. Voltaria em três dias. Se a encomenda não esti­vesse pronta, tornaria a vida do homem num inferno.
O carpinteiro contou a história aos outros que não acreditaram em nada. Três dias depois, apareceu o saci, cheio de razão, cobrando a PERNA-DE-PAU. Desta vez, os homens presenciaram a apa­rição e desataram a correr para tudo que era lado, cada um mais apavorado que o outro. O Saci ameaçou toda a gente e eles iam ver só o que era desgraça. O carpinteiro disse que cumpriria a promessa. Pensou então numa forma de enganar o Saci. Queria trabalhar rapidinho, terminar a obra e sumir. Achava que terminaria tudo antes do terceiro dia. O Saci, muito esperto, fez de tudo para atrapalhar o serviço. Dava tudo errado naquela obra. Os pregos desapareciam, a madeira quebrava e o trabalho atrasou como nunca. O Saci voltou como tinha prometido. Deu mais três dias para o carpinteiro, que não tinha mais desculpas. Fez uma perna de madeira bem bonitinha, do tamanho do Saci e até pintou de preto para combinar com a cor negra da sua pele.
O Saci até que gostou da perna, mas abusando da paciência do outro, pediu uma perna para cada saci da família. O homem, apavorado, ia passar o resto da vida fazendo pernas para tantos sacis que apareceram. Estes iam todos brigando entre si para serem os primeiros. O carpinteiro teve então uma ideia para acabar com a confusão. Construiu um baú bem grande, jogou um monte de grãos de feijão dentro e disse para o Saci que quem pegasse mais grãos, ganhava a perna. Era um truque, pois a ideia era trancar aquele monte de sacis dentro do baú. O problema é que o saci mais chato de todos já tinha uma perna e não tinha interesse na disputa. O homem não teve dúvida, arrancou a perna do Saci e jogou-a na caixa de madeira. O bando de sacis atirou-se para pegar a perna, inclusive o danadinho. Rapidamente, o carpinteiro fechou o baú com um enorme cadeado. Levou-o para a floresta, onde ainda deve estar até hoje. Tomara, entretanto, que ninguém tenha aberto o baú, pois existem sempre aqueles dias em que nada dá certo e isso pode ser sinal que haja um saci livre andando por aí.
A lenda do Papagaio e o Tamanduá
O Papagaio é um pássaro de bico torto. Ficou assim no tempo em que as aves ainda falavam. Era o bicho que mais falava na floresta. Não fechava a boca até conseguir o que queria. Enchia a paciência de toda a gente. O Tamanduá é um bicho de focinho comprido com um grande nariz para sugar formigas. Seria muito feio, se não fosse tão querido.
As florestas eram muito sem graça. Naquela época, as flores, as folhas e as frutas eram todas brancas. As aves e os outros bichos da floresta, cansados daquela monotonia de cores, reuniram-se em assembleia para discutirem e acharem uma solução. É claro que o Papagaio, sempre metido, coordenava a reunião. Falava o tempo todo sem chegar a conclusão alguma, até que o Tamanduá interrompeu. Sugeriu que se pintasse a floresta. O Gavião, que voa bem longe, poderia ir até às nuvens, onde vive a deusa das florestas, e pedir tinta de todas as cores. Todos adoraram a sugestão, menos o invejoso papagaio que queria ter ele tido a brilhante ideia. O Gavião foi falar com a deusa. Ela deu-lhe as tintas, mas pediu que não fizessem muita bagunça na natureza.
A ave foi e voltou muitas vezes, até trazer tinta suficiente para a grande obra. O Papagaio ofereceu-se para cuidar das latas até começar a pintura. Curioso, abriu as latas e derrubou tudo no chão. Só pensava em si mesmo. Resolveu então pintar-se todinho, usando todas as cores. Só não teve tempo de pintar o bico e os pés, pois os outros bichos chegaram. Estes ao verem o sucedido quiseram dar uma surra no Papagaio. No entanto, um sapo sensato pediu que parassem, afinal todos sabiam que o papagaio era uma criatura fútil e egoísta. O Tamanduá, sim, era responsável e deveria tomar ele conta de tudo. Afinal, era ele o dono da ideia. Ficou então decidido que o papagaio seria afastado do cargo. E lá foi o Gavião falar com a deusa da floresta. Contou tudo o que tinha acontecido, pediu desculpas e mais tinta. A deusa precisava da tinta para um arco-íris, mas deu mais uma hipótese para a bicharada.
Os animais começaram a pintar a floresta enquanto o Tamanduá coordenava o trabalho. O Papagaio, muito egoísta, pediu que lhe dessem tinta para o bico e os pés. Queria pintá-los de dourado. Os outros animais não lhe deram qualquer tipo de importância ao pássaro arrogante. Ele se emburrou e se escondeu para não ter que ajudar ninguém. Este ficou então atrás de uma árvore bisbilhotando os outros trabalhando.
Quando a floresta estava quase pronta, a deusa apareceu para visitá-los. Ficou surpresa com a belíssima combinação de cores. Disse que não conseguiria fazer um trabalho tão perfeito sozinha. Os bichos organizaram uma grande festa para comemorar, mas o Papagaio não foi convidado. O Papagaio não tinha ainda o bico torto, tinha o bico mais bonito de todas as aves. O Tamanduá não tinha um focinho comprido, tinha o focinho mais bonito de todos os bichos. O Papagaio, sempre vingativo, resolveu transformar o Tamanduá num bicho ridículo.
Lembrou que o Tamanduá tocava flauta na banda da floresta. O pássaro malvado fez uma flauta de bambu e disse para o Tamanduá que era mágica. Um presente da deusa da floresta. Com ela poderia tocar o som mais lindo do mundo, só que deveria ser tocado com o focinho dentro. O Tamanduá enfiou o focinho na taquara. Coitado do bicho, ficou preso. Ninguém conseguia tirá-lo. O Gavião correu para a deusa da floresta pedindo socorro. A deusa, com a ajuda dos bichos mais fortes, arrancou o bambu, que voou longe, acertando em cheio no bico do Papagaio.
Foi assim que o Tamanduá ficou com o focinho comprido e o Papagaio com o bico torto. Para completar, a deusa resolveu castigar ainda mais o Papagaio. O bicho tagarela ia passar o resto da vida falando, não o que ele pensasse, só o que ele ouvisse. Por isso, os papagaios repetem tudo que a gente fala.
A lenda da Iara, a Sereia
Uma sereia é uma mulher com rabo de peixe. No mundo inteiro, ouvem-se histórias de sereias que vivem no mar, em lagos e rios, encantando os homens com canções sedutoras. A Iara vivia num lago escondido no meio da floresta. Era muito bonita. Tinha cabelos negros muito longos e olhos tão verdes quanto a água do lago. A sereia cantava as suas músicas estranhas, deitada sobre uma pedra, apanhando o Sol como tal como todas as meninas gostam de fazer. Um índio chamado Jaguarari caçava na floresta quando ouviu aquele som maravilhoso que vinha detrás das árvores. Escondendo-se atrás de um arbusto, espiou a moça. Só conseguia observar da cintura para cima, não vendo o seu rabo de peixe FURTA-COR. Ficou lá ouvindo a cantoria até adormecer enfeitiçado. Quando acordou, a moça não se encontrava mais lá.

O rapaz voltou para a aldeia muito triste por não ter tido coragem de falar com ela. Não sabia o seu nome, nem de onde vinha. Desde aquele dia, passou a procurar a moça nas tribos das redondezas. Ninguém sabia de uma menina tão bela que cantasse músicas tão lindas. Decidiu voltar para o lago pois ela poderia aparecer por lá. O índio era o mais belo dos rapazes. Era forte, alto, um grande caçador. Sabia tudo de plantas e animais. Todas as moças queriam casar com ele. Mas o moço só pensava na desconhecida. Um dia, a sereiazinha apareceu nadando no lago e então ele pôde ver um rabo de peixe enorme batendo na água. Não podia acreditar que a moça era uma sereia. Nunca tinha visto uma, só tinha ouvido lendas muito antigas contadas pelos seus antepassados. Ela começou a cantar aquelas melodias estonteantes e ele ficou ainda mais apaixonado. Aproximando-se do rapaz, disse que se chamava Iara. Convidou-o para nadar com ela. Não sabia que ele era diferente. Nunca tinha visto um homem também. Quase arrastou o Jaguarari para o fundo do lago. O moço apaixonado explicou que poderia morrer afogado. Assustada, Iara desapareceu no lago. O coitado nunca mais teve sossego. Só pensava na amada. Não queria saber de caçar ou pescar, só queria vê-la outra vez. Não queria mais viver sem ela. Remava dia e noite pelos lagos daquela imensa floresta até o dia que, numa noite de luar, a sua canoa desapareceu. Aquela estranha canção podia ser ouvida por toda a parte. Era Uma canção feliz. Dizem que Iara levou o Jaguarari para sempre.

A lenda do Lobisomem
Um lobisomem é metade lobo e metade gente. É o primeiro de uma família de sete filhos. Normalmente é magro e amarelo. Nas noites de lua cheia, de preferência nas sextas-feiras, transforma-se em lobisomem e ataca toda a gente ou bicho em busca de sangue. Antes do amanhecer, procura sempre um cemitério, onde se transforma de novo em homem. Num povoado à beira do rio, vivia uma família de sete filhos. O mais novo era fraquinho e amarelado, com aquela cor de lobisomem.
Toda a gente dizia que ele era um. O pobre moço fingia não ouvir aquela fofoquice. Afinal, mesmo que fosse um, não tinha culpa. A natureza tinha-o feito assim. Um dia, pescando no rio, viu uma bela moça lavando roupa. Não deu muita importância, pois achava que não tinha muitas hipóteses com as mulheres.
De repente, uma trouxa de roupa da moça caiu na água. O rapaz, todo heróico atirou-se e salvou a trouxa da correnteza. Ela, agradecida, pediu que ele fosse até sua casa, onde a mãe lhe daria roupas secas e um chá quente para não se constipar. O moço acabou aceitando o convite. Acabaram se apaixonando e começaram a namorar. Os rumores na cidade aumentaram e todas as pessoas perguntavam para a menina se ela tinha a certeza que o namorado não era um lobisomem. Ela começou a ficar desconfiada, mas gostava tanto dele que não podia nem queria a acreditar.
Um dia, sexta-feira à meia-noite, a mocinha sentou-se no jardim de sua casa, apreciando a lua cheia. O namorado tinha ido para casa cedo, com a desculpa de uma dor de cabeça. Estava lá, sonhando com o seu amado, quando um bicho horroroso, que mais parecia um cão enorme, pulou na sua frente. A coisa horrorosa atacou a moça, mordendo o seu braço. A moça gritava como louca e conseguiu fugir para casa não tendo dormido nada naquela noite onde quase morreu de susto.
No dia seguinte, bem cedo, foi ver o namorado e contar a história, aos prantos. O rapaz sorriu, achando tudo palermice. No entanto, este entre os seus dentes tinha um fio vermelho do tecido da blusa da sua amada. Esta apavorada, viu que o seu namorado era mesmo um lobisomem. Não teve medo naquele momento, porque não era noite e já era Sábado. Decidiu que, por amor, salvaria o seu querido da maldição. Perguntou a toda a gente o que fazer. Ninguém sabia. Ouviu falar de um homem que morava na mata, bem longe da cidade, e que poderia ajudá-la. Um velhinho negro com cabelos brancos era a sua última esperança. Este disse para ela não se preocupar e que se tivesse amor pelo rapaz e coragem para ir sozinha a um cemitério de noite e tudo estaria resolvido.
Para isso precisava espetar um espinho de laranjeira que tivesse sido plantada à meia-noite de uma sexta-feira com lua cheia. Para sorte da moça, o preto velho tinha o hábito de plantar laranjeiras à meia-noite de sextas-feiras de lua cheia. Era meio caminho andado.
A moça foi confiante para o cemitério. Tremia de medo enquanto um vulto apareceu atrás de um túmulo, era ele. Quando se ia transformar, zum, ela pulou em cima do bicho fincando o espinho nas suas costas. O monstro peludo deu um grito horripilante e transformou-se no namorado da moça. Estava salvo do encantamento. Casaram e, graças a Deus, tiveram só cinco filhos, todos fortes e bem corados. Existem pessoas que não acreditam, mas se forem à meia-noite numa sexta-feira ao cemitério quem sabe se não serão confrontadas com um lobisomem?
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4 comentários:

  1. Hoje em dia as crianças não dão o mesmo valor para o folclore brasileiro. Muitas nem sabem sobre o Curupira, o que acho absurdo. Parabéns pelo artigo.

    Abraços

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  2. Km Mad, tudo bem?

    O Brasil é mesmo rico em lendas. E o fato de ser um país continental contribui muito para isso.

    Quem melhor conseguiu retratar com maestria as lendas brasileiras foi o escritor Monteiro Lobato. Sugiro a todos que o leiam.

    Abraços, meu amigo!

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  3. Obrigado pelo artigo.Adoro lendas.Solange Stefanowsky

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  4. O brasil e muito rico en lendas mas tem pessoas q ñ sabem disso

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